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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Relacionamentos em" Doses Homeopáticas"?

Seriam os relacionamentos mais seguros em doses" homeopáticas"?

Era uma vez uma cidade, não a mais bonita e nem a mais rica das cidades; e também não era das piores. E seus habitantes moravam em unidades habitacionais de 3 a 5 pessoas, em média. Alguns compartilhavam os quartos, os mais ricos tinham sua própria suíte. E essa organização recebeu o nome de “família”, independente de haver  “laços de sangue” – sangrentos – envolvidos.

As pessoas não eram exatamente muito felizes, mas como era meio tabu dizer que estavam insatisfeitas, fingiam estar ou tentavam se convencer disso. Sempre  ocupadas, muito ocupadas – de modo a não pensar muito no assunto. Afinal de contas não queriam ser tachados de “inadaptados”, “difíceis” ou “neuróticas”.

E assim passavam os dias, mais ou menos insatisfeitas,  tentando acreditar  que estava tudo bem e que a vida é assim mesmo . Não todos, por sorte havia os “rebeldes”, os pensadores e os questionadores. Eles se reuniam numa espécie de gueto, já que  refletir questões existenciais  era tido como algo bastante perigoso ou estúpido, pois  não gerava dinheiro diretamente.

Doroteia e Eulália, duas dessas parias pensadoras, conversavam ao sair de seus” empregos” – ou seja elas eram empregadas de uma organização :

- Dez horas com as mesmas pessoas e suas taras. Isso é insalubre.

- Suponho que sim. Acho que os relacionamentos deveriam ser em doses homeopáticas, seria muito mais saudável.

- Sim, especialmente naquilo que se chama “família”. Você já reparou que há tantos casais que ficam namorando anos e anos; depois resolvem morar juntos ou casar e.... poucos meses depois, um par de anos depois no máximo ....estão separados e brigados.
- Sim, se quer estragar um relacionamento vá morar junto.

- A Liga da Repressão e da Burrice diz que conviver é uma arte , que é preciso aprender a conviver, que é convivendo que realmente se amadurece e conhece as pessoas . Será?

- Parece  que há algo estruturalmente errado aqui. E se as pessoas estivessem desenhadas para passar um determinado tempo umas com as outras; esse tempo poderia ser desde alguns minutos a um par de horas, mas nunca 8/10 horas seguidas, e muito menos morar na mesma casa?

- Como um prazo de validade ou segurança? – Riu nervosamente. – Quem sabe. Quando uma comida excede o prazo de validade  - o tempo que a preservará saudável – o que acontece? Pode intoxicar e até matar. Será que isso não vale para os relacionamentos?

- Então forçar as pessoas a exceder o tempo de convivência saudável  é como forçar um peixe a sobreviver fora d’agua; ou jogar um mamífero na água forçadamente . Isto iria contra a natureza das pessoas.

- Sim, então não seria falha das pessoas por falharem nessa convivência. Seria mais bem essa convivência estar descalibrada, não  estar respeitando os limites saudáveis . Como comer um alimento quando excedeu o prazo de validade ou o prazo de salubridade.

Eulália sorveu o último gole de seu café, olhou em derredor e despediu-se da amiga.

- Lá vou eu agora exceder o novo prazo de salubridade, compartir uma casa pequena com cinco pessoas.

- Boa sorte, amiga. Tente dormir e sonhar, na sua mente você é livre. Deve haver um modo de recobrarmos nossa liberdade e bem estar em todas as áreas.

Doroteia pediu outra bebida e ficou pensando:

Será que os relacionamentos não deveriam ter um ponto de equilíbrio e tempo ( tanto interno quanto cronológico) ... tantos minutos, ou tantas horas . Além desse ponto entra-se em terreno perigoso. Ninguém é desejado 24 horas por dia.
Conviver é difícil e viver na mesma casa mais ainda. Mas será que é questão de acusar  as pessoas de incompetentes,  ou será que o problema está em que as pessoas não estão  programadas   para viver na mesma casa, ou para passar muitas horas juntas?  Não    seria  isso  uma agressão à natureza delas?

Mario acenou e veio sentar-se à mesa.

- Boa noite, Doroteia. No que está confabulando?

  Se todas as pessoas pudessem morar sozinhas e tivessem  acesso a segurança, conforto , comidas boas ,  casa limpa e roupa lavada , etc – talvez morando  perto, talvez até na mesma quadra ou no mesmo prédio, mas em unidades individuais autossustentáveis, quantas pessoas não escolheriam  essa opção ? Quantas pessoas continuariam morando na mesma casa?

- Algumas, talvez. Mas não creio que mais do que 20 ou 30% . Poderiam até optar por  uma casa única , mas  com apartamentos individuais com entradas independentes e acesso a uma área de convivência ; ofereceria  privacidade e,  quando desejado , companhia . Bastaria  dosar de acordo com a necessidade e limite  de cada um .

- Creio que pelo menos metade das  pessoas  que moram na mesma casa, naquilo que se chama famílias, é  por questões de sobrevivência, econômicas e de facilidade  : é mais barato ou é a única opção que elas pensam que tem .

- Isso sem falar nas ideias espalhadas e idolatradas pregadas pela Liga da Repressão e do Condicionamento: que a família é algo sagrado, que é o propósito das pessoas, que é praticamente mandatório estar em casais – aquele que não tem um companheiro/a é um desajustado, um coitado, um doente, etc e que esse casal deve reproduzir: fabricar mais pessoas para continuar o circo.

- Os bebês humanos são muito frágeis  requerem cuidados 24 horas . Não admira que o relacionamento mães/filhos gere tantos problemas. Como isso poderia ser resolvido? Talvez um bebê cuidado por 3 ou 4 casais ? Ou por robôs? Ou meio a meio?  Bem, esse é tema para nossa próxima conversa.






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