Se nós aceitarmos a paródia, a máscara, a mentira de algo ou alguém como se fosse o ente verdadeiro, não estamos desrespeitando e insultando a verdade, o ser real?
Se você conhece um rei, sabe que ele é relativamente bom e justo – se é
que se pode ser justo e bom a um nível de percepção das coisas que já é duvidoso ; e de repente ouve
rumores que esse rei torturou de formas impensáveis, qual a
sua reação ? Você acredita nesses rumores, ou você se permite pelo menos a
dúvida de que estes rumores podem estar completamente, ou parcialmente, equivocados?
Acho muito estranho o conceito de divindade que circula nos ditados
populares, na expressões que se
consagraram pelo uso até que raramente alguém as questiona, assim como em muitos dos supostos sistemas religiosos e
espirituais .
Em geral se aceita a ideia de uma divindade boa e justa, e por outro
lado usa-se e abusa-se da expressão: a vontade divina, foi “deus” que quis,
tinha que acontecer, etc. Que cada um tenha o conceito de divindade que quiser,
mas acho que vale a pena questionar certas ideias ou pensamentos. Será que foi
essa suposta “divindade” ou poder superior que quis? Ou será que aquilo que
estamos percebendo é o erro, o bloqueio, a distorção, justamente aquilo que
esse poder/estado superior não é? Se os
óculos, ou a referência, que estou usando são distorcidos e mentirosos,
qualquer coisa nesse contexto será distorcida e mentirosa. Não seria bom
perguntar-se: será que não estou usando óculos poluídos, quebrados,
fragmentados, limitados? Esses óculos
não poderiam ser a ideia de uma fisicalidade pesada, frágil e mortal? Através
dessas lentes tudo vai parecer pesado e mortal. Mas quem é pesado e mortal, as
lentes ou a verdade?
E se o reino de Deus não for deste mundo, como está escrito da Bíblia. O que poderia ser? Que aquilo que parece ser
o mundo é justamente a máscara, aquilo que encobre e distorce o verdadeiro
mundo. Que aquilo que chamamos de realidade é um produto morto, uma coisa inanimada.
Então o problema está em aceitar o bloqueio pela coisa verdadeira. O que temos
que fazer é mudar os óculos ao invés de inventar um montão de cosmologias para
justificar o que é erroneamente percebido como quebrado, pesado, sofrido e mortal. O problema estaria nos óculos e não na
verdade.
Querer assistir o mundo do ponto de vista e através de uma estrutura de
fisicalidade densa? Não será essa a raiz do problema? Ou um dos agravantes do
problema? Se aceitarmos a ideia de uma
divindade boa, inteligente e justa, acaso ela pediria a seus filhos que
mergulhassem nos níveis densos e mortais da fisicalidade, a título de
experiência, estudo, ou sabe-se lá o que for? Ou esse suposto “mergulho” é
justamente a ilusão, a distorção, a patologia, a “queda”? Pais mortais, com todas suas limitações, que
fossem relativamente bons, pediriam a seus filhos que se enterrassem vivos no
barro para fins didáticos, ou seja lá o
que for ?
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